O que é a Auto-regulação
Tenho vindo a falar de Inteligência Emocional. Escrevi dois posts sobre auto-consciência emocional, como sendo a primeira competência a desenvolver.
A segunda competência emocional é a auto-regulação. A auto-regulação depende da auto-consciência, no sentido que não é possível uma pessoa conseguir gerir as suas emoções se não for capaz de as compreender.
Assim, podemos dizer que, a auto-regulação diz respeito à "capacidade de usar a auto-consciência das emoções para se manter flexível e conduzir o comportamento de forma positiva, em seu benefício".
Pessoas com boa auto-regulação gerem bem os seus sentimentos impulsivos e as emoções deprimidas. Conservam a serenidade e mantêm-se positivas, pensam com clareza e mantêm-se focados nas soluções, mesmo perante situações difíceis e stressantes.
Gerir as emoções não é negar a existência dessas emoções, pelo contrário, é colocar de parte a recompensa imediata do desabafo ou da explosão, para perseguir objectivos mais importantes a médio-longo prazo. É não ceder à pressão das necessidades imediatas e gerir continuamente os padrões de comportamento orientados por valores e objectivos de vida.
Porque somos levados a agir impulsivamente
Quando acontece algo potencialmente ameaçador para nós, o nosso sistema nervoso tem respostas pré-definidas e imediatas, que nos permitem lutar ou fugir e preservar a nossa vida. É o caso de situações de assalto, iminência de acidente, toque num objecto quente... estas respostas automáticas funcionam extraordinariamente bem porque nos protegem dos acidentes ou acontecimentos traumáticos ou mesmo mortais.
Numa situação avaliada como uma emergência, o nosso cérebro usa rotinas e respostas simples e elimina a intervenção de pensamento complexo e a capacidade de planeamento a longo prazo. Paralisamos a nossa capacidade de reflectir e focamos a atenção na urgência da crise presente.
Passado o primeiro instante, entra em funcionamento a avaliação racional e crítica do córtex pré-frontal, que analisa a adequação da resposta emocional automática e a inibe ou não, de acordo com a sua percepção da gravidade da situação.
Contudo, muitas vezes, os circuitos automáticos não estão bem adaptados. Na verdade, a avaliação emocional da situação nem sempre é muito rigorosa. O nosso cérebro reage da mesma maneira a situações de perigo efectivo e a situações que se assemelham a perigo ou ameaça. Por exemplo, se alguém nos grita um palavrão no meio do trânsito, isso não representa uma ameaça directa à nossa integridade física ou mesmo mental, no entanto, pessoas mais impulsivas podem disparar uma resposta emocional automática pela semelhança desta situação com outras situações armazenadas na memória.
Numa escala de 1 a 10, qual é o seu grau de impulsividade? Qual seria, para si, o seu grau ideal?
Como melhorar a auto-regulação
Pessoas com elevada auto-regulação são capazes de inibir precocemente as reacções automáticas e escolher comportamentos mais adequados à situação e com melhores resultados.
Relaxamento
A primeira regra para aprender a auto-controlar os seus impulsos é a prática diária de uma técnica de relaxamento. Uma das principais causas da impulsividade é a acumulação de situações indutoras de níveis médios-baixos de stresse. Em cada uma dessas situações libertam-se no sangue hormonas que se vão manter na circulação sanguínea durante horas. Se as situações forem sucessivas ao longo do dia, mesmo sendo de baixa intensidade, vão-se acumulando elevados níveis hormonais que acabam por desencadear respostas de elevada intensidade, à menor provocação.

Assumir a responsabilidade da comunicação
Lembre-se frequentemente que a forma como se sente e a forma como reage são da sua responsabilidade, não são uma consequência directa da situação ou dos outros. Cada um de nós escolhe a sua forma de reagir. Aqueles que não escolhem deixam-se manipular pelas suas próprias emoções e pelas circunstâncias. Assuma o controlo da sua vida e dirija-a para oa resultados que quer.
Detectar, o mais precocemente possível, as situações desencadeadoras de reacções impulsivas
Quanto mais cedo conseguir tomar consciência do que sente, de que forma se sente ameaçado e quais os padrões de comportamento que usa habitualmente, nessas circunstâncias, mais fácil será conseguir controlar-se.
Pergunte-se:
Como é que este tipo de situação me faz sentir?
O que é que nesta situação me ameaça e de que forma?
Em que é que isto é importante para mim?
Como reajo habitualmente? que resultados obtenho?
Qual o resultado é que eu quero obter?
O que devo fazer para obter esse resultado?
Como me devo preparar para reagir da próxima vez?
Este tipo de reflexão permite-lhe compreender o que faz, o que quer fazer diferente e como se deve preparar para o fazer.
Experimente. Não espere conseguir de imediato, vai precisar de tempo para treinar o seu cérebro a funcionar de forma diferente.
Prepare o desconforto
Se tem um assunto difícil para tratar ou se precisa de falar com alguém com quem normalmente acaba a discutir, tome tempo a preparar o que vai dizer e como vai lidar com a frustração. Visualize a situação antes de começar, o que vai dizer, como o vai fazer, em que local se vai sentar, qual a sua postura corporal, o seu tom de voz...
Em caso de emergência: adie
Se sentir que está prestes a perder o controlo, respire fundo, tente mudar o seu estado de espírito, diga a si próprio "vou conseguir", "sou forte, consigo manter a minha postura de serenidade". Se ainda assim a pressão for demasiada, opte por adiar, peça à outra pessoa para voltarem a falar disso mais tarde. Faça uma pausa, distraia-se, dê um passeio, faça exercícios de relaxamento ou exercício físico, "durma" sobre o assunto...volte a preparar-se e tente de novo. Não deixe de resolver a situação ou ela voltará para o assombrar, resolva-a bem e encerre-a.
Reforce os pequenos progressos
Comece por experimentar em pequenas coisas, mais fáceis de mudar e persista até conseguir dar os grandes passos.
Conclusão
Gerir as emoções é aceitar o desconforto de sentir a emoção negativa, sem a negar ou calar, é planear formas mais adaptadas de reagir, evitar respostas automáticas e irreflectidas e não ceder às necessidades imediatas, para obter melhores resultados a médio-longo prazo.
O mais elevado nível de desenvolvimento da auto-regulação é a possibilidade de controlar e escolher o nosso estado de espírito, em cada momento.
E o leitor, consegue gerir as suas emoções de outras formas?
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